O estudo dos sonhos é chamado
oneirologia, e é um campo de investigação que abrange a
neurociência e a
psicologia. Ainda assim, as razões pelas quais sonhamos ainda são misteriosas. Mas isso não impediu que os cientistas elaborassem algumas hipóteses bastante fascinantes. Aqui estão dez delas.
1. Realização de desejos
Um dos primeiros esforços sustentados para estudar cientificamente os sonhos foi liderado pelo psicanalista
Sigmund Freud, no início do século XX. Após analisar os sonhos de centenas de seus pacientes, ele veio com uma teoria:
os sonhos são realizações de desejos.
Qualquer sonho, não importa o quão aterrorizante ele seja, ele deve ser encarado como uma forma de obter algo que você quer,
literalmente ou
simbolicamente. Por exemplo, digamos que você tem um sonho terrível e triste com a morte de um ente querido. Por que isso seria a realização de um desejo? Talvez, Freud diria, você está tendo um conflito com esse alguém que seria facilmente resolvido se ele morresse.
2. Um efeito colateral acidental de impulsos neurais aleatórios
A ideia de Freud sobre os sonhos é profundamente significativa. Eles podem revelar
desejos e
emoções que você não sabia que você tinha. Mas outra escola popular de pensamento sustenta que os sonhos são realmente apenas um efeito colateral acidental de circuitos ativados no tronco cerebral e estimulados pelo sistema límbico, que está envolvido com as emoções, sensações e memórias. J. Allan Hobson, o psiquiatra que popularizou esta ideia, sugeriu que
o cérebro tenta interpretar estes sinais aleatórios, resultando em sonhos.
3. Codificação de memórias de curto prazo para o armazenamento a longo prazo
Talvez os sonhos sejam apenas histórias geradas aleatoriamente causadas por impulsos neurais, mas talvez também exista uma razão para eles. Para explorar essa ideia, o psiquiatra Jie Zhang propôs a teoria de que
nossos cérebros estão sempre armazenando memórias independentemente se estamos acordados ou não. Mas os sonhos são uma espécie de área de
“armazenamento temporário” da consciência, um local onde o cérebro guarda
memórias antes de transformá-las de curto prazo para o armazenamento de longo prazo. Elas piscam através de nossas mentes resultando em sonhos, antes de serem arquivadas no cérebro.
4. A coleta de lixo
Essa ideia sugere que sonhamos para nos livrarmos de ligações e associações indesejáveis que se acumulam em nosso cérebro ao longo do dia. Basicamente, os sonhos são mecanismos de coleta de lixo, limpando nossas mentes de pensamentos inúteis e abrindo caminho para melhores. Essencialmente,
sonhamos para esquecer. Os sonhos nos ajudam a eliminar a sobrecarga de informações da vida diária e mantém apenas os dados mais importantes.
5. Consolidar o que aprendemos
Esta teoria sugere que
sonhamos para nos lembrar, em vez de esquecer. Ela é baseada em uma série de estudos que mostram que
as pessoas se lembram o que aprenderam melhor se elas sonham depois de aprender. Como a teoria de Zhang sobre o armazenamento da memória de longo prazo, esta teoria sugere que os sonhos nos ajudam a reter o que aprendemos.
A teoria é sustentada por estudos recentes sobre trauma, que sugerem que
quando uma pessoa vai dormir logo após uma experiência traumática, ela está mais propensa a se lembrar e ser assombrada pelo trauma. Assim, uma forma de triagem para pessoas traumatizadas é mantê-las acordadas e ativas por várias horas, mesmo se estiverem cansadas, para evitar
que esta consolidação da memória traumática aconteça.
6. Uma consequência evolutiva do mecanismo de defesa ”fingir de morto”
Com base em estudos que revelaram fortes semelhanças entre os animais que se fingem de mortos e as pessoas que estão sonhando, esta teoria sugere que o sonho pode estar relacionado com um antigo mecanismo de defesa: a imobilidade tônica, ou se fingir de morto.
Quando você sonha, seu cérebro se comporta da mesma forma quando você está acordado, com uma diferença crucial: produtos químicos como a dopamina associados com o movimento e ativação do corpo são completamente desligados. Isto é semelhante ao que acontece com os animais que sofrem paralisia temporária para enganar seus inimigos, os fazendo pensar que eles já morreram.
7. Simulação de ameaça
A teoria anterior se encaixa muito bem com uma outra teoria evolutiva dos sonhos, desenvolvida pelo filósofo-neurocientista Antti Revonusuo, na Finlândia. Ele sugere que
“a função biológica dos sonhos é simular eventos de risco, para então ensaiar a percepção de ameaça e evitá-la.” As pessoas que têm esses tipos de sonhos são mais capazes de enfrentar as ameaças na vida real porque elas já se prepararam através destas
simulações noturnas.
8. Resolução de problemas
A pesquisadora médica Deirdre Barrett sugere que os sonhos são uma espécie de teatro onde somos capazes de resolver problemas de forma mais eficaz do que quando estamos acordados – em parte porque
a mente quando está sonhando faz ligações mais rapidamente do que quando está acordada.
9. Seleção natural
Segundo o psicólogo Mark Blechner, os sonhos produzem
“mutações de pensamento.” Nossa mente pode então selecionar estas mutações e variações para produzir novos tipos de pensamento, imaginação, auto-consciência, e outras funções psíquicas. Basicamente,
os sonhos são a seleção natural de ideias. Isto pode estender-se ao nível das emoções, também.
10. Processamento de emoções dolorosas com associações simbólicas
Enquanto o
modelo darwiniano dos sonhos sugere que estamos sempre transformando nossas idéias, ou eliminando as emoções inadequadas, um novo modelo de sonhos sugere que o processo soa mais como uma
terapia do que uma evolução. Nós não estamos selecionando ideias mais adaptativas ou emocionantes – estamos apenas pegando essas ideias e emoções e colocando-as em um contexto psicológico mais amplo. Muitas vezes,
o cérebro faz isso associando uma emoção a um símbolo.
Quando uma emoção clara está presente, os sonhos são muitas vezes muito simples. Assim, as pessoas que experimentam o trauma, como uma fuga de um prédio em chamas, um ataque ou um estupro, muitas vezes têm um sonho como:
“Eu estava na praia e fui arrastado por uma onda.” Este caso é paradigmático. É óbvio que o sonhador não está sonhando com o evento traumático real, mas em vez disso, seu cérebro retrata a emoção:
“Estou apavorado. Estou impressionado.”
Quando o
estado emocional é menos claro, ou quando há várias emoções ou preocupações simultâneas, o sonho torna-se mais complicado. Temos estatísticas que mostram que esses sonhos intensos são realmente mais frequentes e mais intensos após um trauma. Na verdade,
a intensidade do sonho central parece ser uma medida da excitação emocional do sonhador.
A teoria especula que esse tipo de associação entre a emoção e o símbolo ajuda a “amarrar” as emoções e tecê-las na nossa história pessoal. Possivelmente, esse tipo de
associação simbólica foi uma
adaptação evolutiva que ajudou nossos ancestrais a lidar com trauma em um mundo onde eles teriam tratado com muito mais eventos que ameaçam a vida do que a maioria de nós hoje.
Em última análise, esta hipótese nos traz de volta ao componente
narrativa dos sonhos. Parece que estamos usando essas imagens e idéias bizarras para dar sentido aos acontecimentos do dia, para transformar
descargas neurais aleatórias em algo coerente, e até mesmo para descobrir como devemos nos sentir sobre o que aconteceu com a gente. Não há dúvida de que os sonhos desempenham um papel importante em nossos processos de pensamento. A questão permanece, no entanto:
Eles são uma adaptação evolutiva, ou apenas um acidente misterioso?
Fonte:
io9 mentalismo mágica mentalista entretenimento adulto
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