Com os resultados obtidos, os pesquisadores acreditam que a pesquisa pode ajudar no tratamento de pacientes com esclerose múltipla
A mielina (em amarelo) ajuda na transmissão de impulsos nervosos. (iStockphoto)
Isolamento social por longos períodos pode levar a uma menor produção de mielina no cérebro de adultos, revela uma pesquisa publicada na revista Nature Neuroscience. A bainha de mielina é uma espécie de camada que envolve as fibras nervosas com a função de acelerar os impulsos nervosos. Dessa forma, uma disfunção na produção de mielina faz com que os impulsos não sejam transmitidos de forma adequada e debilita as funções neurológicas.
Cientistas da Universidade de Buffalo e da Mount Sinai School of Medicine, ambas nos Estados Unidos, isolaram por oito semanas camundongos, considerados animais altamente sociáveis, induzindo-os a um estado depressivo. Quando comparados a animais que continuaram em grupos, exames nos tecidos nervosos revelaram que os roedores antissociais passaram a produzir menos mielina na região do cérebro conhecida como córtex pré-frontal – responsável pelo comportamento emotivo e cognitivo.
Espera-se que um efeito semelhante ocorra no cérebro humano, mas para confirmá-lo novas pesquisas serão necessárias.
De acordo com os pesquisadores, os resultados são importantes porque ajudam a compreender a plasticidade cerebral em adultos. Já se conhecia que pouca interação social entre recém-nascidos e crianças podia levar a um desenvolvimento insuficiente de mielina, "mas não se sabe ao certo como essa forma de plasticidade afeta o cérebro de adultos", escrevem os autores.
Para a doutora Patrizia Casaccia, da Mount Sinai School of Medicine e uma das autoras do artigo, a pesquisa pode no futuro ajudar no tratamento de doenças graves relacionadas à falta de mielina no cérebro. "Em um paciente com esclerose múltipla, uma doença que tende a levar ao isolamento social, a mielina danificada precisa ser reparada. Portanto, a formação de nova mielina é muito importante", afirmou a pesquisadora ao site de VEJA. "Se o paciente for socialmente ativo e busque ver amigos com frequência, levando adiante uma vida cheia de coisas interessantes, então a mielina poderá ser formada e ajudar a reparar a camada danificada."
Outra autora da pesquisa, Karen Dietz, da Universidade de Buffalo, disse que os resultados "abrem uma nova avenida de investigação para entender como os distúrbios de mielina e humor se relacionam."
Após serem reinseridos em comunidades de camundongos, a produção de mielina nos roedores voltou aos níveis normais, o que sugere que os efeitos negativos do isolamento social podem ser revertidos.
Fonte: Revista Veja
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