Por Richard Wiseman
Para The Guardian
Durante anos, os gurus de auto-ajuda têm pregado o mesmo mantra simples: se você quer melhorar a sua vida, então você precisa mudar a forma como você pensa. Se force a ter pensamentos positivos e você se tornará mais feliz. Visualize o seu sonho e você poderá desfrutar de maior sucesso. Pense como um milionário e você vai magicamente enriquecer. Em princípio, essa idéia parece perfeitamente razoável. No entanto, na prática, muitas vezes ela se torna ineficaz.
Tome a visualização. Centenas de livros de auto-aperfeiçoamento incentivam os leitores a fecharem os olhos e imaginarem a si mesmos perfeitos; a se verem em um escritório enorme no topo da escada corporativa, ou bebendo um cocktail enquanto sentem a areia quente do Caribe entre seus dedos. Infelizmente, a pesquisa sugere que esta técnica não funciona.
Em um estudo conduzido por Pham Lien, da Universidade da Califórnia, os alunos foram convidados a passarem alguns momentos, a cada dia, visualizando-se recebendo uma nota alta no próximo exame. Mesmo que o exercício devaneie durasse apenas alguns minutos, ele fez com que os alunos estudassem menos e obtivessem notas mais baixas. Em outro experimento conduzido por Gabriele Oettingen, da Universidade de Nova York, os formandos foram convidados a anotar quantas vezes eles fantasiavam sobre a obtenção de seu sonho de emprego depois de sair da faculdade. Os estudantes que relataram que freqüentemente fantasiavam sobre tal sucesso receberam menos ofertas de emprego e terminaram com salários significativamente menores.
Por que deve ser assim? Talvez aqueles que fantasiaram sobre uma vida maravilhosa estão mal preparados para contratempos, ou tornaram-se relutantes em fazer o esforço necessário para alcançar seu objetivo. De qualquer forma, a mensagem é clara - imaginar você perfeito não é bom para sua vida.
No entanto, quando se trata de mudança, a mensagem não é melancólica e cheia de desgraça. Décadas de pesquisa mostram que há realmente uma maneira simples, mas altamente eficaz, para transformar a maneira como você pensa e sente. A técnica transforma o senso comum em sua cabeça, mas se baseia em ciência. Estranhamente, a história começa com um pensador vitoriano de renome mundial e um urso imaginário.
Trabalhando na Universidade de Harvard no final do século 19, William James, irmão do romancista Henry James, foi atraído para o não convencional, muitas vezes andando pelo campus ostentando um chapéu de seda e calça vermelha-xadrez, e descrevendo suas teorias usando prosa divertida ("Enquanto uma pobre barata sentir as dores de um amor não correspondido, este mundo não é um mundo moral"). Esta abordagem pouco convencional não teve retorno. Publicada pela primeira vez em 1890, em dois volumes do magnum opus de James, “Os Princípios de Psicologia” ainda é leitura obrigatória para estudantes de ciência comportamental.
No final da década de 1880, James voltou sua atenção para a relação entre emoção e comportamento. A nossa experiência nos diz que todos os dias as suas emoções fazem com que você se comporte de determinadas maneiras. Sentir-se feliz te faz sorrir, e sentir-se triste te faz franzir a testa. Caso encerrado, mistério resolvido. No entanto, James tornou-se convencido de que esta visão do senso comum estava incompleta e propôs uma nova teoria radical.
James fez a hipótese de que a relação entre emoção e comportamento era uma via de mão dupla, e que o comportamento pode causar emoção. De acordo com James, sorrindo pode fazer você se sentir feliz e franzindo a testa pode fazer você se sentir triste. Ou, para usar a maneira favorita de James de colocá-lo: “Você não corre de um urso, porque você está com medo dele, mas fica com medo do urso, porque você foge dele."
A teoria de James foi rapidamente relegada para a gaveta de arquivo e marcada "anos à frente de seu tempo", e lá ficou por mais de seis décadas.
Durante todo esse tempo, muitos gurus de auto-ajuda promoveram idéias que estavam em linha com as experiências diárias das pessoas sobre a mente humana. O senso comum nos diz que as emoções vêm antes de comportamento, e assim por décadas os livros de auto-ajuda disseram para os leitores se concentrarem em tentar mudar a forma de pensamento ao invés da maneira como eles se comportavam. A teoria de James simplesmente não era olhada.
No entanto, na década de 70, o psicólogo James Laird, da Universidade Clark, decidiu colocar a teoria de James em teste. Os voluntários foram convidados a entrar no laboratório e foi pedido para eles adotarem determinadas expressões faciais. Para criar uma expressão de raiva os participantes foram convidados a colocar para baixo as suas sobrancelhas e cerrar os dentes. Para a expressão feliz, eles foram convidados a levantar os cantos da boca. Os resultados foram notáveis. Exatamente como previsto anos antes por James, os participantes se sentiram significativamente mais felizes quando eles forçaram sorrisos em seus rostos, e muito mais irritados quando cerraram os dentes.
Pesquisas posteriores mostraram que o mesmo efeito se aplica a quase todos os aspectos de nossas vidas cotidianas. Ao agir como se você fosse certo tipo de pessoa, você se torna a pessoa - o que eu chamo de princípio "Como Se".
Tome, por exemplo, a força de vontade. Pessoas motivadas ficam com seus músculos tensos quando estão prontas para entrar em ação. Mas, você pode aumentar a sua força de vontade, simplesmente enrijecendo os músculos? Um estudo conduzido por Iris Hung, da Universidade Nacional de Cingapura, teve voluntários que visitaram uma cafeteria local e lhes foi pedido para tentar evitar a tentação e não comprar lanches açucarados. Alguns dos voluntários foram convidados a fechar sua mão com força ou contraírem seus bíceps e, assim, se comportavam como se fossem mais motivados. Surpreendentemente, este simples exercício fez com que as pessoas ficassem muito mais propensas a comprar comida saudável.
O mesmo aplica-se a confiança. As maiorias dos livros sobre a confiança incentivam os leitores a se concentrarem em casos em sua vida quando eles foram bem ou pedir-lhes para visualizar sendo mais assertivos. Em contraste, o princípio “Como Se” sugere que seria muito mais eficaz simplesmente pedir às pessoas para mudarem seu comportamento.
Dana Carney, uma professora assistente na Columbia Business School, conduziu um estudo onde ela dividiu os voluntários em dois grupos. As pessoas em um grupo foram colocadas em poses de poder. Aqueles que estavam sentados em mesas, ela pediu para colocarem seus pés em cima da mesa, olhar para cima, e entrelaçar as mãos atrás de suas cabeças. Em contraste, o outro grupo foi solicitado a adotar posturas que não estavam associadas com o domínio. Alguns desses participantes foram convidados a colocar seus pés no chão, com as mãos no colo e olhar para o chão. Apenas um minuto de pose dominante proporcionou um verdadeiro impulso na confiança.
Os pesquisadores então voltaram sua atenção para as substâncias químicas que percorriam as veias dos voluntários. Aqueles que fizeram poses de poder tinham níveis significativamente mais altos de testosterona, provando que essas pessoas haviam mudado a composição química de seus corpos.
O princípio “Como Se” pode até fazer você se sentir mais jovem. A professora de psicologia de Harvard, Ellen Langer, realizou muitos experimentos de perfis-altos, um dos seus experimentos mais marcantes envolvendo o princípio do “Como Se” a fez voltar as mãos do tempo.
Em 1979, Langer recrutou um grupo de homens em seus 70 anos para uma "semana de reminiscência" em um retiro fora de Boston. Antes que o estudo começar, Langer testou a força, postura, visão e memória dos homens.
Ela, então, encorajou os homens a agirem como se fossem 20 anos mais jovens. Quando eles chegaram ao retiro, por exemplo, não havia ninguém lá para ajudá-los a descer do ônibus e eles tiveram que carregar suas malas para dentro. Além disso, o retiro não havia sido equipado com carrinhos ou auxiliares de movimento. Depois de desfazerem suas malas, todos se reuniram na sala principal do retiro. Cercados por vários objetos dos anos 50, incluindo uma televisão preto-e-branco e um rádio vintage, Langer informou aos participantes que, para os próximos dias, todas as conversas sobre o passado tinham de ser no tempo presente, e que nenhuma conversa deveria mencionar nada do que aconteceu depois de 1959.
Dentro de dias, Langer podia ver o efeito dramático do “Como Se”. Os participantes andavam mais rápido e eram mais confiantes. Dentro de uma semana, vários dos participantes decidiram que agora podiam viver sem os bengalas. Langer tomou várias medidas psicológicas e fisiológicas durante todo o experimento e descobriu que o grupo mostrou melhorias em destreza, memória, velocidade de movimento, pressão arterial e audição. Agindo como se fossem jovens, tinham colocado anos fora de seus corpos e mentes.
Mais de um século atrás, William James propôs uma abordagem radicalmente diferente para mudar. Décadas de pesquisas mostraram que sua teoria se aplica a quase todos os aspectos da vida cotidiana, e pode ser usada para ajudar as pessoas a se sentirem melhor, evitarem a ansiedade e preocupação, se apaixonarem e viverem felizes para sempre, ficarem magras, aumentarem a sua força de vontade e confiança, e até mesmo retardar os efeitos do envelhecimento.
Então sente-se ereto e respire fundo.
É hora de rasgar o livro de regras e abraçar a verdade sobre a mudança.
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Como mudar a ação fala mais alto
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Aqui estão 10 exercícios rápidos e eficazes que utilizam o princípio “Como Se” que vão transformar seu modo de pensar e se comportar.
FELICIDADE: Sorriso
Este é o avô de todos eles. Como demonstrado no estudo de Laird, sorrir fará você se sentir mais feliz. Para obter o máximo deste exercício, faça um sorriso tão largo quanto possível, estenda seus músculos da sobrancelha ligeiramente para cima, e mantenha a expressão resultante por cerca de 20 segundos.FORÇA DE VONTADE: Tensão
Como mostram as experiências de Hung, enrijecer os músculos aumenta a sua força de vontade. Na próxima vez que sentir necessidade de evitar um cigarro ou um bolo de creme, feche sua mão com força, contraia seu bíceps, pressione o polegar e o dedo indicador juntos, ou pegue uma caneta em sua mão.
DIETA: Use a sua mão não-dominante
Quando você come com sua mão não-dominante, você está agindo como se estivesse realizando um comportamento incomum. Por causa disso, você coloca mais atenção na sua ação, e assim comerá menos.
PROCRASTINAÇÃO: Faça um começo
Para superar a procrastinação, aja como se você estivesse interessado no que você tem que fazer. Gaste apenas alguns minutos fazendo isso na realização da primeira parte de tudo o que você está evitando, e de repente você vai sentir uma forte necessidade de completar a tarefa.
PERSISTÊNCIA: Sente-se direito e cruze os braços
Ron Friedman, da Universidade de Rochester, liderou um estudo onde os voluntários foram apresentados à problemas complicados, para ver quanto tempo eles perseveraram. Aqueles que se endireitaram e cruzaram os braços, lutaram por quase o dobro do tempo que os outros. Verifique se o seu monitor do computador é um pouco acima de sua linha dos olhos e, quando as coisas ficarem difíceis, cruze os braços.
CONFIANÇA: Pose de Poder
Para aumentar a sua auto-estima e confiança, adote uma pose de poder. Se você estiver sentado, inclinesse para trás, olhe para cima e coloque suas mãos interligadas atrás da cabeça. Se você estiver em pé, coloque os pés no chão, empurre os ombros para trás e seu peito para a frente.
NEGOCIAÇÃO: Use cadeiras macias
Móveis rígidos estão associados a comportamentos rígidos. Em um estudo de Joshua Ackerman, no MIT Sloan School of Management, alguns participantes se sentaram em cadeiras duras, outros em cadeiras macias e depois tiveram que negociar o preço de um carro usado. Aqueles que se sentaram nas cadeiras duras ofereceram menos e eram mais inflexíveis.
CULPA: Lave os seus pecados
Se você se sente culpado por alguma coisa, tente lavar as mãos ou tomar um ducha. Chen-Bo Zhong, da Universidade de Toronto, descobriu que as pessoas que realizaram um ato imoral e depois lavaram suas mãos com um anti-séptico, se sentiram significativamente menos culpadas do que outros.
PERSUASÃO: Movimento de Cabeça
Se as pessoas balançam a cabeça enquanto ouvem a uma discussão, elas são mais propensas a concordar com os pontos que estão sendo colocados. Quando você quer encorajar alguém a concordar com você, sutilmente acene com a cabeça quando for conversar. Uma pesquisa liderada por Gary Wells, da Iowa State University, mostra que as pessoas vão retribuir o movimento e ficarão estranhamente atraídas para o seu modo de pensar.
AMOR: Abra-se
Casais apaixonados falam sobre os aspectos mais íntimos de suas vidas. Uma pesquisa realizada por Robert Epstein, fundador do Centro de Cambridge para Estudos Comportamentais, mostra que um bate-papo mais íntimo faz com que as pessoas também se sintam mais atraídas umas pelas outras. Se você estiver longe, encoraje o outro a se abrir, pedindo um conselho caso você tivesse 10 anos de idade ou que objeto ela salvaria caso tivesse um incêndio em casa.
Sobre o autor
A primeira carreira de Richard Wiseman foi como um mágico profissional e ele já foi um dos mais jovens membros do “Círculo Mágico”. Ele estudou na UCL e na Universidade de Edimburgo e é agora o único professor da Grã-Bretanha para a compreensão pública da psicologia, com base na Universidade de Hertfordshire.
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Fonte: The Guardian mentalismo mágica mentalista entretenimento adulto
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