Leonardo Martins - Mentalista

sábado, 18 de maio de 2013

Hipnose no Interrogatório - Um estudo encomendado pela Cia em 1960

Este estudo, escrito por Edward F. Deshere, foi encomendado pela CIA e publicado na revista Studies in Intelligence em 1960. Este documento, disponível no próprio site da agência americana, explora algumas das possíveis aplicações da hipnose durante os interrogatórios.


Considerações a priori atrapalham o sucesso no interrogatório por indução de transe e sugerem uma possível variante técnica.

HIPNOSE NOS INTERROGATÓRIOS


Edward F. Deshere

O controle sobre o comportamento de uma pessoa obtido por hipnose, obviamente, torna um excelente assunto para uso no difícil processo de interrogatório.

(...)

Hipnose de interrogados 


A questão da utilidade da hipnose no interrogatório de pessoas que não querem divulgar as informações solicitadas envolve três questões: primeiro, a hipnose pode ser induzida em condições de interrogatório? Se assim for, pode o sujeito ser obrigado a revelar informações? E, finalmente, se a informação pode ser obtida, o quão confiável vai ser? O problema inicial é induzir o transe, ou contra a vontade do sujeito, ou sem ele estar ciente disso.

(...)

Somos levados a concluir que os muitos dos casos aparentes de hipnose, sem consciência do sujeito ou com consentimento, parece haver uma relação positiva entre o hipnotizado e o hipnotizador. A situação mais favorável é aquela em que o sujeito espera obter benefícios a partir de sua associação com o hipnotizador e confia no hipnotizador e em sua capacidade de ajudar. Isto não seria a situação na qual um interrogador hipnotizador pretende extrair a informação que o sujeito quer reter. A possibilidade de usar a hipnose, portanto, parecem depender de sucesso no lento processo de nutrir uma relação positiva com o interrogado ou perpetrar algum tipo de trapaça.

Obediência em Transe 


Supondo-se que um interrogador tenha contornado estes problemas e hipnotizado um sujeito que quer reter informações. Até que ponto pode o sujeito manter o controle de seus segredos, mesmo em transe profundo? Esta é uma área onde prevalecem grandes divergências entre as autoridades e onde a evidência experimental é altamente contraditória. Young, por exemplo, relata que os indivíduos resistem sugestões hipnóticas específicas, se eles decidirem de antemão a fazê-lo, enquanto Wells relata que nenhum de seus indivíduos foram capazes de resistir a um comando inaceitável pré-definido ou mesmo qualquer outro.

A maioria dos trabalhos sobre este problema tem se centrado na questão mais específica de saber se uma pessoa pode ser induzida sob hipnose a cometer algum ato anti-social ou auto-destrutivo. O experimento que contradiz esta tese é o clássico experimento de Janet, que pediu uma mulher, em hipnose profunda, a cometer vários assassinatos em frente a um seleto grupo de juízes e magistrados, apunhalando algumas vítimas com punhais de borracha e envenenando outros com comprimidos de açúcar. Ela fez tudo isso sem hesitação. Com a missão já cumprida, no entanto, ela foi deixada a cargo de alguns jovens assistentes, que encontraram uma forma de abalar o experimento. Quando lhe disseram que ela agora estava sozinha e ordenaram-na a despir-se, ela prontamente despertou. Os assassinatos foram vistos como uma brincadeira para a hipnotizada, despir-se teria sido real; a mulher não teve dificuldade em discernir a diferença.

(...)

Exatidão e veracidade 


Suponhamos, porém, que uma interrogado foi hipnotizado e induzido a divulgar informações: Quão correta esta informação deve ser?

(...) Nosso próprio trabalho clínico nos convenceu  amplamente de que indivíduos hipnotizados são capazes de mentir quando têm motivos para fazê-lo.


Hipnose profilática 


(...)

Uma defesa eficaz contra esta situação hipnótica, contra a hipnose, poderiam ser fornecidos por elevar o nível de sofisticação das pessoas que poderiam ser expostas a ele. Mesmo uma ou duas palestras alertando-os de possíveis dispositivos para induzi-los a acreditarem estar hipnotizados poderia mostrar-lhes que as pessoas não podem ser hipnotizado contra a sua vontade e não podem ser obrigados, mesmo sob hipnose, a dizer a verdade ou a seguir as sugestões realmente contrárias às suas crenças.

Descobertas 


Em resumo, parece extremamente improvável que o transe possa ser induzido em indivíduos resistentes. É possível hipnotizar uma pessoa sem ela estar ciente disso, mas isso exigiria uma relação positiva entre o hipnotizador e o sujeito, mas essa relação é improvável na própria definição de interrogatório. Desconsiderando-se essas dificuldades, é duvidoso que o comportamento proscrito ser induzido contra a vontade do sujeito, porém, temos de admitir que as experiências cruciais para resolver esta questão ainda não foram realizas. As evidências também indicam que as informações obtidas durante a hipnose não garante serem precisas e pode de fato conter inverdades, apesar das sugestões hipnóticas em contrário.

A Hipnose como uma profilaxia contra interrogatório, seja para evitar a hipnose por captores, a condição contra o estresse e dor, ou para criar amnésia para informações sensíveis, funcionaria como um mecanismo repressivo artificial com o grave inconveniente de diminuir o domínio da situação do cativo. Finalmente, o estado hipnótico, e não a própria hipnose, é provavelmente mais eficaz  como um instrumento no interrogatório.


Para ler o artigo original na íntegra- Aqui

Fonte: Site da própria CIA mentalismo mágica mentalista entretenimento adulto
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2 comentários:

Miguel Moraes Gomes disse...

Adorei o post, e concordo que a hipnose para forçar um sujeito a revelar segredos num interrogatório deve ser muito ineficaz.
Mas penso que ainda assim algumas ferramentas da hipnose poderiam ser utilizada de outras formas num interrogatório. Para induzir por exemplo sentimentos convenientes tais como confiança, segurança, ou opostos, medo e desconfiança com as pessoas que estaria encobrindo.
Claro que são hipóteses falíveis mas apenas para exemplificar como amplificar as possibilidades. Um interrogador profissional poderia pensar forma criativas de utilizar a hipnose num interrogatório.

Leonardo Martins disse...

Miguel,

O pessoal já faz uso do estado hipnótico quando cria a privação de sono e o isolamento.

Mas pela própria definição de interrogatório (ao contrário de entrevista, que é neutro), não é possível criar o elo empático necessário para a hipnose profunda.

Mas é claro... Existem as drogas.

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