Leonardo Martins - Mentalista

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Horas de Sono e Memória

Perca uma noite, e as memórias do dia podem ser comprometidas - uma constatação perturbadora em uma sociedade na qual a privação de sono se alastra em proporções epidêmicas.



Este post é um trecho do artigo 
escrito por Manoel do blog Estudos Psicológicos

Descobertas recentes mostram que dormir também facilita a análise ativa de novas memórias, permitindo a resolução de problemas e dedução de novas informações. Num estudo de 2004, o neurocientista Ulrich Wagner, da Universidade de Lübeck, Alemanha, demonstrou quão poderoso pode ser o processamento de memórias no sono. Ele ensinou aos participantes como resolver um tipo de problema matemático usando um procedimento longo e fez com que o repetissem cerca de 100 vezes. Em seguida, pediu aos voluntários que fossem embora e voltassem 12 horas mais tarde, quando foram instruídos a tentar outras 200 vezes.

Embora não soubessem que havia uma maneira bem mais simples de resolver os problemas, os pesquisadores perceberam exatamente quando eles descobriam o atalho, pois a velocidade da resolução da tarefa aumentava de repente. Muitos dos participantes descobriram o truque durante a segunda sessão, e esta chance aumentou 59% depois de uma noite de sono. De alguma forma o cérebro adormecido estava solucionando esse problema - sem nem mesmo saber que havia algo para solucionar.

Quanto mais pesquisamos o assunto, mais percebemos que o cérebro está longe da inatividade enquanto dormimos. Está claro que o sono pode consolidar memórias por meio de seu aprimoramento e estabilização e pelas descobertas de padrões dentro do material estudado, mesmo quando não sabemos que pode haver padrões ali. É óbvio, portanto, que economizar nas horas de sono prejudica esses processos cognitivos: alguns aspectos da consolidação mnêmica só são possíveis quando temos mais de seis horas de sono.

Perca uma noite, e as memórias do dia podem ser comprometidas- uma constatação perturbadora em uma sociedade na qual a privação de sono se alastra em proporções epidêmicas.

Mas por que certas funções cognitivas só entram em ação quando estamos dormindo? Não faria mais sentido se essas operações ocorressem durante a vigília? Talvez fizesse, mas as pressões evolutivas que tornaram o sono humano o que ele é hoje já existiam muito antes do advento da alta cognição. Funções como a regulação do sistema imunológico e o uso eficiente de energia (por exemplo, caçar de dia e descansar de noite) são apenas duas das muitas razões pelas quais faz sentido dormir num planeta que alterna a luz e a escuridão. E como já tínhamos a pressão evolutiva para dormir, o sistema nervoso acabou usando esse tempo para processar informações coletadas durante a vigília imediatamente anterior.

O processamento da memória parece ser a única função do sono que exige do organismo estar realmente adormecido, isto é, que ele se encontre alheio ao que acontece ao seu redor, deixando de captar as informações sensoriais. Essa atividade cognitiva inconsciente parece exigir os mesmos recursos cerebrais usados para processar estímulos sensoriais quando se está acordado. O cérebro precisa se desligar do mundo externo para realizar esse trabalho.

Em contraste, embora outras funções, como a regulação do sistema imune, sejam realizadas de forma mais imediata quando o organismo está inativo, não parece haver um motivo para precisarmos perder a consciência. Assim, pode ser que outras funções tenham se desenvolvido para 'tirar vantagem' do sono, que já foi alocado para o período noturno para tecer nossas memórias.

É inegável que ainda restam muitas outras perguntas sobre nossa cognição noturna e sobre a forma exata como o cérebro realiza o processamento de memórias. Essas indagações suscitam uma questão maior sobre a memória em geral: como lembramos certas informações e esquecemos outras? Acreditamos que compreender o sono pode ser a chave para decifrar mecanismos da memória.

Não nos resta dúvidas de que nossa capacidade intelectual é equivalente à agilidade e armazenamento de nossa memória, é pois, o acúmulo de aprendizagem interagindo com o presente, abrigando possibilidades infinitas no futuro. Assim é o movimento do homem. Assim é seu crescimento, seu avanço.

Muita vantagem nos oferece a vida quando decidimos explorar melhor cada momento em que nosso cérebro se encontre desempenhando sua atividade.


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